A Lenda dos Guardiões
Posted by Wally
"You made them real." |
Foi no
mínimo inesperado descobrir que Zack Snyder, cineasta que já fez filme de
zumbis e adaptações de quadrinho (muito violentas), estava por trás da direção
de A Lenda dos Guardiões, uma
animação que, apesar de explorar o conceito por trás da guerra, tem na
ingenuidade seu fator X. Por outro lado, Snyder, que já teve que trabalhar muito
com o fundo verde (e, consequentemente, preenchimento digital) em 300 e Watchmen, já possui alguma experiência muito bem-vinda na área da
animação. O que certamente explica um pouco melhor sua presença no projeto. A Lenda dos Guardiões canaliza,
portanto, a mais marcante identidade de Snyder: a estética. Cumprindo suas
ambições tridimensionais muito bem e explorando ao máximo cores, movimentos e
planos profundos, o visual é tão deslumbrante para o gênero da animação quanto
os de seus filmes anteriores foram para seus respectivos gêneros. A outra
identidade de Snyder (que tanto adoramos), porém, ficou de fora – obviamente. Um
pouco perdido entre conservar o “infantil” e adotar um tom mais sombrio, Snyder
acaba pecando e cria o primeiro filme realmente irregular de sua curta
filmografia.
O filme, do
mesmo estúdio do excelente Happy Feet: O
Pinguim, prometia render algo no mesmo estilo visual e narrativo. Tira os
pinguins, entram as corujas. Tira a música, entra a guerra. Definitivamente, um
projeto a ser abordado com maior indiferença. Não é, porém, exatamente o que
lhe enfraquece. A história gira em torno basicamente de dois irmãos corujas,
Soren e Kludd. Ao se perderem do ninho familiar, são raptados e colocados a
serviço da espécie suprema de corujas, que defendem sua “raça ariana” e quer a
morte ou a escravidão de todos os outros. Soren, que pertence à tal raça, se
revolta contra a oferta deles de treiná-lo para a guerra, partindo atrás dos
lendários guardiões de Ga’Hoole para salvar seu irmão.
Para início
de conversa, A Lenda dos Guardiões merece
elogios logo de cara pelo uso do 3D. Poucas animações das muitas que exploraram
o novo conceito de ouro de Hollywood tiveram esse êxito. Snyder incorpora a
técnica na história, nunca soando excessivo ou gratuito. Para um filme então
que se passa em maior parte no céu, com corujas voando e, diversamente, em
conflitos, a tecnologia ofereceu complemento considerável à estética ambiciosa
proposta. Sem abrir mão da câmera lenta – sua marca registrada – Snyder deixa o
visual da animação clinicamente meticuloso, trabalhando com paletas que oscilam
entre as cores reluzentes de um mundo bonito e os tons mais sombrios que
enaltecem o clima mais denso de guerra. As imagens são em si deslumbrantes e
funcionam perfeitamente no telão do cinema.
Fora a
técnica, porém, não há nada de especial em A
Lenda dos Guardiões. É uma história “bonitinha” que possui personagens
carismáticos e envolventes, lhe prendendo a atenção ao longo da curta metragem –
mas não há aquela cena ou aquele diálogo, nenhum verdadeiro
momento de inspiração. Os roteiristas John Orloff e Emil Stern, de O Preço da Coragem e Sem Medo de Morrer respectivamente, encaram o mesmo dilema de Snyder quanto
à busca transição de gênero. São três nomes vindo de projetos muito adultos
repentinamente encarando uma história que requer um olhar completamente
diferenciado. Mesmo quando há sensibilidade, esta nunca é explorada o
suficiente. Portanto, pode haver o interessante conceito dos irmãos em
confronto que, apesar da mesma criação, seguem caminhos opostos – mas tal idéia
é desenvolvida de maneira mecânica, sem surpresas ou liberdades criativas. O
mesmo vale para a falta de consideração por parte dos pais dos irmãos, que
surgem ao desfecho da forma mais burocrática possível.
Em termos, A Lenda dos Guardiões é como sua trilha:
bonitinho e ordinário. A trilha sonora do indicado ao Oscar David Hirschfelder
(Austrália, Elizabeth) é até boa, mas lembra demais as composições de John
Williams para a série Harry Potter. O
filme, por sua vez, acerta no formato e no acabamento, em bela embalagem. Na
hora de abrir e desfrutar, o que encontramos não só deixa a desejar levando em
conta as mentes por trás do projeto, como nos deixa com a sensação leve de que
fomos meio enganados por todo aquele espetáculo explosivo de imagens
magníficas. Colírio para compensar as frivolidades de um longa-metragem “bom” e
“agradável”. Definitivamente, não espere mais.
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Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole (2010)
Direção: Zack Snyder
Roteiro: John Orloff, Emil Stern, baseado em livros de Kathryn Lasky
Elenco: (vozes de) Jim Sturgess, Abbie Cornish, Ryan Kwanten, Anthony LaPaglia, Helen Mirren, Sam Neill, Geofrrey Rush, Hugo Weaving, David Wenham, Essie Davis, Joel Edgerton
(Animação, 97 minutos)
Direção: Zack Snyder
Roteiro: John Orloff, Emil Stern, baseado em livros de Kathryn Lasky
Elenco: (vozes de) Jim Sturgess, Abbie Cornish, Ryan Kwanten, Anthony LaPaglia, Helen Mirren, Sam Neill, Geofrrey Rush, Hugo Weaving, David Wenham, Essie Davis, Joel Edgerton
(Animação, 97 minutos)
12 comentários:
Realmente, é uma surpresa descobrir que, por trás deste filme, se encontra a figura de Zack Snyder. Achei que a parte técnica deste filme foi muito boa e gostei da maneira como o roteiro constroi o antagonismo entre os dois irmãos. Mas, senti falta de uma exploração maior à figura dos pais, por exemplo.
Não tinha curiosidade pelo filme, mas esperava que Snyder usasse o equilíbrio entre a técnica e a história, mas parece que a estética ganhou outra vez. rsrs. Verei, mas sem pressa.
Beijos! ;)
Sabe que não estou nada curioso pra assistí-lo mesmo que a direção seja de Zack Snyder (que gosto até) mas sei lá,algo nele parece não me agradar.
Abraços
Kamila: Eu já acho que o antagonismo não evoluiu além da simples boa idéia, faltou melhor execução - e concordo sobre os pais. Só gostei mesmo deste filme pelo espetáculo visual.
Mayara: Não há muito equilíbrio, infelizmente.
Leandro: Vale pela técnica, mas de resto, dá para descartar.
Confesso que eu não me senti atraído pelo trailer quando vi, mas alguns amigos me indicaram e você me disse que é "bonitinho"...bom, me motivou mais. Seu texto detalha bem o filme...e acho que o aspecto visual deve ser levado mais em conta mesmo.
E só pelas vozes de Jim Sturgess, Abbie Cornish e Ryan Kwanten ( o Jason de True blood? rs), vale a pena, não? rs
Abraço
Não estou com a mínima vontade e paciência pra com este filme, nãos ei explicar ao certo ... mas filmes com corujas ? Nunca curti muito filme com animais como protagonistas [enjoei deste filão].
Talvez eu veja, mas sem pressa.
abs ;)
O nome de Zack Snyder me causou uma grande estranheza, mas de fato o que vc falou faz a presença dele fazer sentido.
Apesar de não ser aqueeelas coisas eu ainda tô curioso para assistir.
Abraços.
Sobre seu comentário no meu blog........realmente eu fui pelo Selton Mello adoro ele profissionalmente e como pessoa. Tenho os clips que ele dirigiu para a Banda Ira. Foi uma grande decepção. Mas, o filme realmente é ruim. Pode ter certeza.
Não sei porque mas A Lenda dos Guardiões não me chamou a atenção. Não me atraiu.
O cinema aqui embassou ... mas ainda tá passando no IMAX antes de Harry Potter, se tiver tempo e dinheiro eu vejo. E outra, é bom vc ter citado a irregularidade de Snyder que em realidade, quando se faz um projeto diferente do que ele propõe pode até dizer que existirá acertos e erros ... porém o maior acerto é fazer algo diferente e se torna um diretor completo.
Abraços champs!
Cristiano: Realmente, para quem for ver legendado, é melhor ainda.
Alan: Se não gosta do sub-gênero, dificilmente vai apreciar.
Bruno: É bom, mas dispensável.
Renato: Pois é, decepção com esse projeto do Selton... vou ver para crer.
Johnny: Sim, um diretor sair da sua zona de comforto é sempre algo interessante de se ver, mas aqui Snyder provou que não deveria ter saído dela.
Concordo com você. Nem mais, nem menos. O filme é isso. Agora, você apontou essa comparação da trilha com o trabalho de John Williams em "Harry Potter". Interessante. E tens razão.
Abs!
Eu não vi em 3D, nem legendado, nem tinha expectativa alguma com o filme. E a experiência foi bem pior do que eu imaginava. Decepcionante em tudo: o visual não é nada arrebatador, preciso discordar aqui; a história é estúpida e contempla todo tipo de clichê (os irmãos que tomam caminhos opostos, um povo querendo "dominar o mundo" e por aí vai); e Snyder, obviamente, está perdido (o único resquício do diretor são as -- aqui medíocres -- cenas em "câmera lenta"). Eu não sei quanto ao texto original em inglês, mas em português (que não deve se diferenciar muito, mas certamente é mais ridículo), estava risível. Como sempre digo, mesmo as crianças merecem entretenimento de melhor qualidade. Certamente um dos piores filmes do ano. 1/10
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