Decisões Extremas

"So I guess you can say we dodged that blessing."
Na cinematografia atual, a realidade tornou-se enfadonha e a ficção, relevante. É cada vez mais raro encontrar algum filme baseado em fatos reais que almeje a autenticidade das obras não-verídicas. Há exceções, claro – algumas, fantásticas – mas o Cinema costuma ser mais palpável ao lidar com histórias que, apesar de partir do âmbito real, percorrem vias mais imaginativas. Isso talvez ocorra porque, ao lidar com contos verídicos como o deste Decisões Extremas, há um grande risco dos roteiristas simplesmente se acomodarem à história. Como já existe um arco dramático completo e personagens totalmente formados, os roteiristas sentem que precisam apenas transcrever os fatos – principalmente ao lidar com uma história tão emotiva e humana como essa. Trata-se, portanto, de um projeto “fácil”. E o fácil certamente não desafia a audiência. O que era real e urgente logo se torna raso e superficial, partindo de um roteiro sem contornos verdadeiramente humanos e essenciais. Em suma, não há nuances.

Baseado em livro de Geeta Anand intitulado “A Cura” e roteirizado pelo indicado ao Oscar por Chocolate Robert Nelson Jacobs, Decisões Extremas traz a história real de John Crowley (Brendan Fraser), pai de dois filhos que sofrem de uma rara disfunção genética chamada de doença de Pompe. Família de classe média-alta, Crowley e sua esposa Aileen (Keri Russell) vivem para cuidar dos filhos doentes, além do único filho “normal” da família. Apesar do bom custo de vida, os Crowley não possuem o suficiente para financiar certo estudo que precisa ser feito a respeito desta doença terminal pouco explorada. Ao encontrar o doutor Robert Stonehill (Harrison Ford) e comprovar sua dedicação para a investigação da doença, John arrisca tudo em iniciativa para arrecadar US$100 milhões e salvar os jovens filhos que estão cada vez mais pertos da morte.

Quando se assiste à Decisões Extremas, você é lembrado segundo a segundo de que se está conferindo um filme, já que o roteiro esquemático do inconstante Jacobs utiliza de todos as regrinhas básicas do livro  “como roteirizar uma história real comovente”. Tudo aqui é verdade (ou ao menos assumimos), mas o que mais falta ao filme é Verdade. Aquela veracidade intensa que transforma seus personagens em seres tri-dimensionais, fazendo com que estes entrem sob sua pele e te emocione. Se tiver a sorte (ou azar, depende do ponto de vista) de cair nas armadilhas esquemáticas de Decisões Extremas e acabar se emocionando, será por causa da forte história verídica – e não por qualquer mérito narrativo ou cinematográfico. O que temos aqui é uma leitura simplista de algo que merecia um trabalho muito mais sofisticado.

Neste aspecto, portanto, o filme de Tom Vaughan (Jogo de Amor em Las Vegas) está mais para produção televisiva do que cinematográfica – justificando o fracasso da obra em terras estadunidenses e a falta de confiança da produtora ao lançá-lo direto em DVD no Brasil. Vaughan, fazendo jus à frivolidade do texto em mãos, constrói um filme sem qualquer ambição ou polimento. Da fotografia à trilha, é tudo muito ordinário e comum. Fato este que cria um clima transparente e totalmente desinteressante. Se não fosse pela curiosidade acerca do que há de explicitamente verídico na obra, não haveria qualquer envolvimento ou mesmo senso de lógica por parte do longa-metragem – que é longo, excessivo no melodrama e completamente expositivo.

Para entregar esses diálogos expositivos e aquelas cenas de puro melodrama e nenhuma emoção realmente sincera, temos um elenco inepto – mesmo que os três atores protagonistas já tenham realizado boas coisas em suas respectivas carreiras. Fraser simplesmente não tem capacidade para segurar um filme nos ombros, e é exatamente isso que é requerido dele. Como o pai preocupado e sempre tenso para com o destino de seus filhos, Fraser segue a cartilha e faz todas as expressões necessárias. Como o próprio filme, porém, não há aquela verdade precisa. Russell, por outro lado, parece se esforçar um pouco mais, mas é claramente enfraquecida pela forma como o roteiro retrata sua personagem unidimensional (a mãe que só sabe se mostrar preocupada e emotiva). O pior, porém, é Harrison Ford, que encarna o que parece ser um personagem difícil da maneira mais burocrática.

Decisões Extremas não é um total desastre. Apresenta uma história bonita em seu plano e possui uma ou outra cena mais caprichada. Nada digno de nota, porém. Este é um filme típico em todas as formas, ângulos e aspectos possíveis que tal afirmação permite. Vai arrancar lágrimas de alguns e, para aqueles que dão um pouco mais de valor à como uma história é contada em termos de Cinema, negligência. Uma pena, a história merecia algo muito mais memorável.
______________________________________________________________________________________

Extraordinary Measures (2010)
Direção: Tom Vaughan

Roteiro: 
Robert Nelson Jacobs, baseado em livro de Geeta Anand
Elenco: Brendan Fraser, Harrison Ford, Keri Russell, Meredith Droeger, Diego Velazquez, Sam M. Hall, Jared Harris, Patrick Bauchau, Alan Ruck, David Clennon, Dee Wallace, Courtney B. Vance

(Drama, 106 minutos)

10 comentários:

Dr Johnny Strangelove disse...

Vixi ... broxei ...
hehehe

Se fosse realmente um telefilme ... não seria melhor?

Abraços CHAMPS!

kamila disse...

O Brendan Fraser não me entra!!!!!

Pedro Henrique Gomes disse...

Esse cinema do Tom Vaughan é pra boi dormir. Talvez pela maneira um tanto abrupta com que conduz qualquer narrativa, por mais simplista que possa ser, de mão pesada. Esse é mais um exemplo.

chuck large disse...

mais um filme, que não tenho a mínima vontade de conferir.

pseudo-autor disse...

Continuam insistindo no Brendan Frase para papeis dramáticos. Não é a dele!

Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com

Wally disse...

Johnny: Pois é, provavelmente seria menos irritante.

Kamila: Apesar de uma ou outra exceção, também não é um ator que me convence.

Pedro: Exatamente!

Alan: Não recomendo mesmo.

Pseudo: Concordo totalmente.

renatocinema disse...

Esse filme não me atraiu. Harrison Ford somente em "Indiana Jones" ou "Star Wars".

Sobre 400 contra 1, no meu blog, te aviso: nem em dvd. Escolha outro filme.kkk

Unknown disse...

O Harrison Ford se mete em cada furada que eu vou te contar, hein! E o Sr. Brendan Fraser é um fanfarrão! Nem Indiana Jones ele foi. Só matou a múmia. E várias vezes!

Abs!

Pedro Tavares disse...

Nem ouvi falar desse filme...e vou continuar longe hehe

Wally disse...

Renato: É por aí, Ford dificilmente funciona em outra coisa. E pode deixar, rs.

Otavio: Concordo totalmente. Dois fanfarrões.

Pedro: Isso, siga os instintos, rs.

Postar um comentário