Boardwalk Empire | 1ª temporada
Posted by Wally
"You can't be half a gangster, Nucky. Not anymore. |
Quando encontramos nomes como o de Martin Scorsese –
cineasta muito passional – associados a programas televisivos, nos damos conta
de que o Cinema realmente não está mais sozinho. E sua supremacia está mesmo ameaçada,
conforme séries de TV chegam cada vez mais ambiciosas, artisticamente
provocadoras e substanciais como esta Boardwalk
Empire aqui – a melhor estreia do ano. Ela não está sozinha, certamente,
mas isso é assunto para outra hora. Scorsese, que dirigiu o piloto da série,
foi o ponta pé inicial perfeito para uma temporada de doze episódios simplesmente
sensacional criada por Terence Winter (criador de The Sopranos). Que a série é da HBO (sinônimo absoluto de
qualidade), é um mero detalhe.
Baseado em livro de Nelson Johnson, a série retrata
a cidade de Atlantic City nos Estados Unidos dos anos 20 – marcado pelo início
da era da Proibição. Para quem não sabe, quando o álcool foi oficialmente
banido nos Estados Unidos. O personagem principal neste meio é Enoch Thompson
(Steve Buscemi), ou Nucky, como vem a ser conhecido. Uma espécie de político
gângster, Nucky deslizou da manipulação sadia proveniente de seu cargo político
para território muito mais hostil, se tornando um perfeito gângster sem ao
menos se dar conta disso. O controle que exerce sobre a cidade, mesmo com um
cargo bem inferior dos demais, o coloca no meio do furacão dos dilemas que
acabam por inundar Atlantic City, que por sua vez é conhecida como a “cidade do
pecado” original, bem antes de Las Vegas roubar o título.
Boardwalk
Empire possui toda a pompa e o estilo que marcaram os
melhores filmes de gângster já produzidos (vários de Scorsese), mas ao mesmo
tempo é um retrato histórico incrivelmente sóbrio. De Nucky à introdução de um
ainda prematuro Al Capone, a série instiga e provoca por meio dos personagens
essenciais que permeia por sua narrativa. Ao contrário de muitos seriados que
ou perdem o foco no excesso de personagens ou nunca conseguem justificar a
existência de alguns, Boardwalk Empire consegue
intercalar as sub-tramas de formas fantásticas em cada um dos episódios. O fato
de cada capítulo possuir em média 60 minutos apenas colabora para a narrativa,
que possui tempo de sobra para trabalhar as devidas nuances dos ótimos
personagens. Assim, nenhuma sub-trama é excessivamente prolongada e nenhuma
fica deixando a desejar. É óbvio que o destino dos personagens permanece
indeciso e em aberto ao final da metragem – a 2ª temporada já foi encomendada –
mas ao desfecho sentimos que houve encerramento, com os personagens todos
fechando certos arcos dramáticos (alguns melhores que outros, todos
interessantes).
Trazendo na direção dos episódios nomes como Allen
Coulter, Brad Anderson e Timothy Van Patten, a série imprime uma qualidade
estética maravilhosa. Não só em termos óbvios como direção de arte e figurino
(impecáveis) mas na linguagem puramente cinematográfica usada para contar as
histórias, em fotografia belíssima. O próprio Scorsese já realiza um belo (e
especialmente longo) plano-sequência no início da série, retratando
grandiosamente o tal “boardwalk” (calçadão) do título, que se torna o ícone da
cidade. Em bela rima, Timothy Van Patten também encerra a temporada com outro
plano-sequência com ampla visão do calçadão. De lá pra cá, muita coisa mudou. E
acompanhar a evolução dos personagens e da própria trama foi um deleite. Isso
porque, muito mais do que um filme de gângster com sequências de ação
empolgantes e intrigas policiais, Boardwalk
Empire é um drama intenso. Observa seus personagens com imensa sutileza, de
forma que lembra muito o trabalho de roteiro meticuloso realizado em Mad Men, também uma série de época. Os
episódios costumam sempre seguir uma gradativa elevação de tensão, culminando
em desfechos que são espetaculares desafios (em vezes, simbólicos) aos
personagens. Neste aspecto, destaco o término que traz Nucky entrando no
elevador e observando os rastros deixados por suas pegadas e, claro, aquele que
traz a maravilhosa personagem Margaret Schroeder (Kelly Macdonald) se encarando
no espelho após ter sua senso de moralidade completamente deturpado.
Com um personagem principal que ganha o carisma do
povo ao realizar grandes discursos sobre sua luta contra as desigualdades na
infância e sua devoção cristã, defendendo até mesmo a tal Proibição, e que no
próximo momento está mandando matar algum inimigo ou negociando uma
comercialização de bebida, Boardwalk
Empire trabalha muito esse tal borrão que existe quanto a moralidade de
seus personagens. É fantástico, portanto, quando um se dirige a ele e fala que
ele “não pode ser metade gângster”. Margaret, com quem Nucky se envolve, é
ainda mais interessante neste aspecto, já que se vê encurralada em posição nada
conveniente (ou talvez até demais). Outros temas são tratados também, claro. As
consequências pós-guerra, seja no psicológico atormentado de Jimmy (Michael
Pitt) ou no rosto deformado de Richard (Jack Huston); e até mesmo a
homossexualidade. Tudo muito pungente e formidável, sincero e especialmente
autêntico. Se os personagens são difíceis de te conquistar em termos de carisma,
com tipos ambíguos e outros excessivamente conturbados (nunca um demérito,
claro), o mesmo não pode ser dito pela suntuosidade narrativa, que te cativa do
primeiro segundo e, ao final, te deixa apenas pedindo mais.
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Boardwalk Empire (2010)
Criação: Terence Winter
Direção: Timothy Van Patten, Allen Coulter, Martin Scorsese, Jeremy Podeswa, Alan Taylor, Brian Kirk, Brad Anderson, Simon Cellan Jones
Roteiro: Terence Winter, Meg Jackson, Lawrence Konner, Howard Korder, Margaret Nagle, Timothy Van Patten, Paul Simms, baseado em livro de Nelson Johnson
Elenco: Steve Buscemi, Michael Pitt, Kelly Macdonald, Michael Shannon, Shea Whigham, Aleksa Palladino, Michael Stuhlbarg, Stephen Graham, Vincent Piazza, Paz de la Huerta, Michael K. Williams, Anthony Laciura, Paul Sparks, Dabney Coleman
(Policial, 60 minutos)
Criação: Terence Winter
Direção: Timothy Van Patten, Allen Coulter, Martin Scorsese, Jeremy Podeswa, Alan Taylor, Brian Kirk, Brad Anderson, Simon Cellan Jones
Roteiro: Terence Winter, Meg Jackson, Lawrence Konner, Howard Korder, Margaret Nagle, Timothy Van Patten, Paul Simms, baseado em livro de Nelson Johnson
Elenco: Steve Buscemi, Michael Pitt, Kelly Macdonald, Michael Shannon, Shea Whigham, Aleksa Palladino, Michael Stuhlbarg, Stephen Graham, Vincent Piazza, Paz de la Huerta, Michael K. Williams, Anthony Laciura, Paul Sparks, Dabney Coleman
(Policial, 60 minutos)
6 comentários:
Já é uma das melhores coisas que a HBO já fez, e olhe que foram muitas. Boardwalk Empire representa hoje o que Mad Men representou em sua estreia: uma série que já nasceu favorita nas premiações. E não é pra menos. Acho que você já disse tudo aí, mas não custa reforçar que o trabalho técnico é algo esplêndido e, como citou no texto, se completa quando vemos personagens incríveis interpretado por um elenco soberbo. Não há o que colocar defeito nessa série. Cinco grandes estrelas.
Sou fã de Martin Scorsese e de histórias de gangsters....então, nem fala.
Ouvi em algums revistas vários elogios a essa série, preciso assistir urgente.
Obrigado pela ótima dica: Bom Companheiro.kkkk. Scorsese merece esse singelo trocadilho. abs
Ainda não comecei a assistir a série, mas meu interesse tá cada vez maior... O elenco é muito bom e o pessoal atrás da câmera nem se fala.
Sem dúvidas é uma série imponente. Daquelas que chega para derrubar a favorita (mesmo que eu ainda ache a quarta temporada de Mad Men melhor). Elenco, produção, reconstrução da época (como você bem disse), tudo em harmonia com o roteiro maravilhoso. Não gostei muito do final, vou confessar, mas estou curioso pela continuação da história.
Pena que não é filme! Essa equipe, o argumento, teria tudo para bater qualquer filme lançado em 2010!
Abs!
Se se trata de falar de uma série extraordinária certamente Boardwalk Empire é o melhor, quando eu vi e piloto parecia uma série atraente, mas com o passar do tempo tem me surpreendeu agradavelmente, sempre supera as minhas expectativas, é uma vergonha para a sua última temporada.
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