Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo

"What a glorious mess we are."
Dirigido pelo irregular Mike Newell, que aposta no ecletismo e mais do que o normal se perde nas próprias ambições, Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo é o que muitos chamaram de “diversão descomprometida” e “aventura para desligar o cérebro”. Naquele mesmo estilo do recente Esquadrão Classe A, diga-se de passagem. O grande furo desta abordagem é que, da mesma forma que o filme de Joe Carnahan trazia citações à Gandhi e um personagem com crise de consciência, este Príncipe da Pérsia busca contornar sua história épica de ação e fantasia em uma clara (e tão óbvia) analogia à invasão dos Estados Unidos no Iraque. Já podemos descartar aí a falta de compromisso. Não há problema algum em adotar analogias e ideais em um grande blockbuster. O problema é como este é introduzido e com qual intuito. O que transparece é que os roteiristas estavam apenas se levando demasiadamente a sério, inserindo urgência em um cenário puramente digital, diluindo-a a um estado de deplorável pretensiosidade.

O longa-metragem, baseado em uma série de video-games um tanto famosa, se passa nas terras místicas da Pérsia. O protagonista é Dastan (Jake Gyllenhaal) que, quando jovem e órfão, foi adotado pela realeza e criado em meio à riqueza e o poder. Dastan, em seus gloriosos anos como soldado e protetor da honra do reino, invade a cidade sagrada de Alamut, acusada de abrigar e vender armas poderosas aos inimigos da Pérsia. Nem tudo é o que parece, porém, e Dastan logo se vê incriminado pela morte do próprio pai, tendo que confiar na Princesa Tamina (Gemma Artterton) e acreditar em um poder desconhecido.

A grande virtude de Príncipe da Pérsia é um objeto fantástico que faz jus ao melhor que a ficção-científica pode oferecer. Desde os primórdios a viagem no tempo tem fascinado na cinematografia. Então é mais do que válido afirmar que, ao invés de construir analogias rasas e pretensiosas, os roteiristas teriam sido muito mais bem sucedidos usando tal “inteligência” na composição de uma aventura que faria jus à complexidade proposta pela natureza da viagem no tempo. O que, infelizmente, não ocorre. Com a clara exceção de uma ou outra sequência de ação, pitadas isoladas de inspiração e o charme contagiante proposto por este sub-gênero, não há esperteza ou consistência na trama de Príncipe da Pérsia que possa justificar qualquer envolvimento por parte da audiência na aventura incessante que toma conta das quase duas horas de duração.

Aborrecido e chato, Príncipe da Pérsia arrasta o espectador por uma narrativa frívola completamente repetitiva que se apóia excessivamente no humor para funcionar. Levando em conta que nem o humor funciona – em terríveis diálogos, flertes e clichês entre os personagens de Dastan e Tamina – a narrativa não delonga a transparecer suas falhas de formas bem vívidas. A camuflagem oferecida pela ação desenfreada e pelos efeitos especiais grandiosos dura pouco e se revela impotente, já que caracteriza-se basicamente por imensas tomadas digitais sem textura ou verdadeira emoção inserida. No máximo, a obra almeja te envolver por breves minutos no deslumbre estético para abruptamente soltá-lo no vazio que é o verdadeiro filme por trás dos enfeites. Há sempre a possibilidade de se conseguir ser tão impressionado pelos atributos técnicos da obra, que nada mais importaria de fato. Caindo livremente e abraçando o escapismo proposto. Isto, porém, necessitaria de tolerância sobrenatural para a presença irritante de defeitos ao longo da metragem. Muito difícil disfarçá-los, por maior que seja o orçamento e a quantidade de tomadas digitais inseridas.

No meio deste âmbito superficial, restaria aos personagens a salvação da trama, já que esta não possui nada de especial e se revela previsível até mesmo na revira-volta final (é só analisar quem interpreta o papel pra saber que não tinha possibilidade da pessoa não ser um vilão). A única esperança ficaria por conta de qualquer charme ou emoção criada entre os personagens. Pois se a dupla principal fica mais tempo lançando piadinhas bobas uns aos outros, já é óbvio que nem neste aspecto o filme consegue se sobressair. Jake Gyllenhaal, um excelente ator, até tenta e consegue às vezes, mas surge perdido em um filme que decididamente não é a sua “praia”. E ver um ator tão bom destes surfando em um avalanche de areia digital nos lembra do quão impetuosa Hollywood consegue ser quanto quer. Gemma Arterton, por outro lado, é só beleza. Não há nada para afirmar sobre o talento da atriz que valha a pena.

No todo, Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo é bem isso. Diversão? Só se conseguir mesmo desligar o cérebro. E com a devida cautela para que este sobreviva à hibernação e consiga ser reativado. Não há outra forma de se conseguir apreciar um filme que é só espetáculo e pirotécnica. Redundante afirmar, mas Cinema não é isso. Para conseguir ao menos o título sincero de “diversão descomprometida”, o filme precisaria pelo menos entreter. E nem isso ele consegue.
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Prince of Persia: The Sands of Time (2010)
Direção: Mike Newell

Roteiro: 
Boaz Yakin, Doug Miro, Carlo Bernard, baseado no video game em série de Jordan Mechner
Elenco: Jake Gyllenhaal, Gemma Arterton, Ben Kingsley, Alfred Molina, Steve Toussaint, Toby Kebbell, Richard Coyle, Ronald Pickup, Reece Richie

(Aventura, 116 minutos)

18 comentários:

Dr Johnny Strangelove disse...

Bem, gostei do filme, de longe uma das melhores adaptações de videogames já saiu baseando claro nas ultimas coisas que saiu.

E se duvidas de Gemma, procure ver O Desaparecimento de Alice Creed, a mina sabe tirar de letras nesse filme e em Persia ... ela é está LITERALMENTE UMA PRINCESA ... LINDA DEMORREEEEEEEEEEEEER

Tiago Lipka disse...

Achei duas estrelas até demais. hahaha.

Não consegui achar divertido, aliás, achei um dos mais chatos e arrastados do ano.

Abraço o/

renatocinema disse...

Você falou tudo......Diversão descomprometida.

Um filme para ver no supercine, quando não se tem outra opção.

Anônimo disse...

não acho o filme tão ruim... ele é divertido e tem boas cenas de ação... e para uma adaptação de game, ele tem umas revira-volta bem legais

http://filme-do-dia.blogspot.com/

Unknown disse...

O filme tem viagem no tempo, mas não vai fazer ninguém colocar a cabeça para funcionar, como em "De Volta Para o Futuro". Reflete a época atual (uma invasão justificada pela informação sobre armas de destruição em massa nas mãos inimigas?), mas não vai cair na prova de ninguém. É apenas Hollywood correndo atrás de seu público. Prefiro jogar videogame.

Abs!

Cristiano Contreiras disse...

Não condeno esse filme como você, acho que ele até entretem bastante, eu pelo menos não fiquei entediado com ele em momento algum - creia, filmes como "Transformers" e outros por aí, esses sim são chatinhos. Nada mais que pipocas.

Acho que MNike Newell (que dirigiu um dos melhores da saga Harry Potter) consegue fazer um filme que é bem semelhante aos movimentos e ideologias de sua origem, o jogo. O Blockbuster até que convence, a trama de Dastan (além de sua caracterização, movimentos) se assemelham ao jogo...eu mesmo gosto e tenho o game aqui e identifiquei ele dentro do filme, é como "Resident Evil", que há uma boa atmosfera do game na versão cinematográfica.

Decerto, o filme tem um roteiro bem frágil, até pobre, é básico. A trama de "amor" entre Dastan e Tamina é boba demais, mas há tantos filmes atuais assim...não achei tão ridículo assim. Eu gosto de Gemma Artterton, ela promete mais em filmes de drama, ao contrário de atrizes que são idolatradas por aí - vide Amanda Seyfried, rs - e nada fazem. Sei que a Tamina às vezes irrita pela personalidade forte no filme, pela arrogância, mas eu acho que a atriz deu conta do limitado roteiro que tinha em mãos.

Eu não precisei desligar meu cérebro, no geral o filme é nota 6 e não é nada demais!

abraço

Leandro disse...

Eu que já estava nenhum pouco curioso pra assistir ao filme,após o texto,vou esperar passar no Tela Quente mesmo.
Abraços

Kamila disse...

Acho que fui uma das poucas a ter gostado desse filme. Achei um ótimo blockbuster de verão. Uma trama agradável, atores com boa química e um filme que diverte. Não queria nada mais que isso dessa obra.

Anônimo disse...

Eu gostei do filme, mas é bem que o vc disse, pura diversao, pra ser esquecido no dia seguinte. Apesar de ser bobo, cheguei a me encantar com as piruetas que Dastan dava no filme (pura nostalgia de gnt véia que jogava Super Nintendo, sabe como é, rs). A musica da Alanis também é boa, rs. E eu sou suspeita pra falar de Gyllenhaal, acho que perfeito em quase todos os papeis que ele faz. Alem do que, ele era um personagem divertido. Agora me decepcionei com Bem Kingsley, porque ele faz um papel tão loser de vilão que senti vergonha por ele...

bruno knott disse...

Tb achei bem arrastado... e nem me diverti tanto!

Matheus Pannebecker disse...

Já até desisti de ter qualquer vontade para assistir esse filme. É unânimidade que ele é ruim! Vou passar longe...

ANTONIO NAHUD disse...

Pulsa o cinema
por estar vivo!
Pulsa!
Cheio de emoção!
Gostei do blog. Vou segui-lo.
Abração

www.ofalcaomaltes.blogspot.com

James Lee disse...

Não tenho grande predileção por Gyllenhal, e cansei um pouco desses filmes "oi ! vamos desligar a cabeça e se divertir ?". Então, prefiro passar bem longe! hehehehe

abs,
sebosaukerl.blogspot.com

Mateus Denardin disse...

Seu quarto parágrafo resume muito bem o filme e minha opinião sobre ele.

Chatíssimo, sem qualquer cena que impressione, sem qualquer momento inspirado (não de que me lembre), sem nada. Mike Newell já havia feito um dos mais irregulares filmes da série HARRY POTTER, e não era de se esperar grande coisa dele numa adaptação de videogame. Já exigir uma trama inteligente com viagens no tempo seria certamente demais para essa equipe, visto que mesmo projetos muito mais interessantes não conseguiram conceber tal feito à perfeição (à exceção, óbvio, de DONNIE DARKO).

Lembro pouquíssimo do filme, mas, pelo que tenho registrado, dei 4/10 ou 2/5.

Mais uma vez, um texto excelente, Wally.

Mayara Bastos disse...

Já não esperava nada deste filme, agora... rsrs. E, parece que o game também não é grande coisa. rsrs.

Beijos! ;)

LINDERVAL SOUZA disse...

Este filme ate que me surpreendeu nao e tao ruim assim!

trabalhe em casa disse...

adorei

trabalhe em casa disse...

e me surpreendeu tbm achei que esse filme fosse uma porcaria mais ate que nao

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