The Rocky Horror Picture Show

"A mental mind fuck can be nice."
A primeira música a tocar no musical The Rocky Horror Picture Show fala sobre andróides lutando e a criação de uma criatura. Ao mesmo tempo que realiza esta introdutória (!) à elementos da trama que se seguirá, funciona como uma ode fantástica ao cinema B, mencionando nomes como Anne Francis e George Pal – artistas que marcaram o gênero do filme-B por meio de obras como O Planeta Proibido e A Máquina do Tempo. Cantada por Richard O’Brien, mas sincronizada com os lábios desencarnados de Nell Campbell (aquele mesmo do cartaz), a música é uma delícia, nos inserindo no clima da obra imediatamente. Apesar disso, nunca imaginamos que a criatura e os andróides mencionados fariam parte da narrativa. A questão é que The Rocky Horror Picture Show, metalinguístico e subversivo, é um próprio filme-B de ficção-científica disfarçado de musical contagiante. E é aí que reside seu charme (e certa beleza formidável).

Após o prólogo, conhecemos Brad (Barry Bostwick) e Janet (Susan Sarandon), nossos protagonistas. No casamento dos amigos Ralph e Betty, Brad e Janet de repente decidem se casar. Passado algum tempo, precisam buscar ajuda quando o carro quebra na estrada em meio à chuva, recorrendo à uma mansão bastante suspeita. Lá, conhecem o Dr. Frank-N-Furter (Tim Curry), um cientista transexual que seduz o casal para as festividades imensamente bizarras que tomam conta do local.

Quando estreou, em 1975, The Rocky Horror Picture Show foi um fracasso. Ninguém parecia querer entrar na brincadeira sugerida, que era de voltar aos filmes dos anos 50 e 60 de espírito trash e normalmente exibidos como “sessão dupla” nos cinemas. Algum tempinho depois, porém, perceberam que só tinha uma forma verdadeira de vender o filme: como sessão trash noturna, oras. E, com exibição à meia-noite nos cinemas ao redor do país, ganhou sua fama cult. 35 anos após seu lançamento, o filme ainda é exibido em cinemas selecionados. O apelo do longa é totalmente justificável. Reunindo um grande número de personagens espirituosos, originais e bastante ousados, o filme é uma jornada particularmente transcendente há um mundo puramente contagiante e sagaz nas particularidades que abraça. Os personagens são aberrações fantásticas e se vêem presos em uma realidade igualmente peculiar. O escapismo que a obra oferece, portanto, é inigualável. Especialmente pelos personagens transcenderem as devidas peculiaridades para revelar emoções incrivelmente cruas e melancólicas.

Completamente subversivo e politicamente incorreto, é um filme que trata de alguns temas que na época ainda eram verdadeiros tabus. Não é por nada que chegou a virar símbolo da comunidade LGBT. Seu personagem principal é um transexual que seduz (e vai pra cama) com os nossos “heróis”, Brad e Janet. Em algum ponto da narrativa, o mesmo personagem ainda canta sobre “se entregar ao prazer absoluto” e “nadar nas águas do pecado e da carne” – enquanto os personagens fazem exatamente isso ao fundo. Em outras palavras, o filme vai ao limite. E de uma forma imensamente prazerosa e dignificada. No âmbito subjetivo, é óbvio que o longa-metragem tem algo a dizer sobre moralidade contemporânea, jogando dois “recém-casados” em um antro de pecado ao qual ambos sucumbem intensamente. No entanto, a intenção primordial da película parece ser a literal: a de ser uma simples (e exaltante) diversão; um musical fervoroso com músicas magníficas, tipos impactantes e uma narrativa desprovida de qualquer sanidade. E se sai espetacularmente bem sucedido neste aspecto.


A narrativa (e as músicas) evoluem gradativamente da diversão absoluta (quase obscena) para a melancolia rasgada que toma conta do último ato. Oferecendo um verdadeiro choque na mudança de tom e atmosfera (que fica bem pesada) essa transição pode oferecer alguma irregularidade e afastar a audiência que não consiga criar empatia pelos personagens. O Dr. Frank-N-Futter, personificado com louvável energia pelo Tim Curry, é um personagem emblemático e é impossível resisti-lo quando abre a boca para cantar as músicas mais audaciosas. Desde sua entrada triunfal ao som da inesquecível “Sweet Transvestie” até sua despedida emocionante com “Going Home”. Mas é também um sujeito excessivamente peculiar e indefinido. E para aqueles que buscam um pouco mais de plausibilidade no roteiro, o borrão de emoções expelido na tela ao clímax pode não aparentar ser muito conclusivo. Para todos os outros, é apenas a nota final de uma orquestra sinfônica primorosa.

Como a maioria dos filmes de seu sub-gênero, será preciso entrar na brincadeira para realmente apreciar The Rocky Horror Picture Show. É também sugerido que tenha uma mente aberta e a devida tolerância. O filme é um misto desregulado e engraçadíssimo de loucos em um movimento musical que é tanto um protesto quando um circo. E, se o longa-metragem já é muito bem sucedido conferido de forma independente, enaltecido pelos atributos técnicos e o talento dos atores (Susan Sarandon, excelente), imagine-o então da forma que nasceu para ser visto: como uma experiência coletiva em sessões de meia-noite que devem ser um arraso. Qualquer oportunidade não deve ser ignorada.

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The Rocky Horror Picture Show (1975)
Direção: 
Jim Sharman
Roteiro: 
Jim Sharman, Richard O'Brien (baseado em sua peça musical)
Elenco: 
Tim Curry, Susan Sarandon, Barry Bostwick, Richard O'Brien, Patricia Quinn, Nell Campbell, Jonathan Adams, Peter Hinwood, Meat Loaf, Charles Gray
(Musical, 100 minutos)

13 comentários:

leo disse...

Taí um filme que quero muitíssimo assistir e simplesmente não sei o real motivo de nunca ter assistido.
abraços

Mateus Denardin disse...

Esse filme é diversão absoluta! Tão louco, tão trash, tão subversivo, tão provocativo. Certamente não apenas entretenimento, ele quer também, como você apontou brevemente, fazer um ou outro coméntário social. Tim Curry numa atuação antológica, canções envolventes, direção de arte excelente. Certamente um deleite para ser visto numa sessão de madrugada com sala cheia. 6/10 ou 3/5

James Lee disse...

Ah, este filme é muito bacana, foi o primeiro filme ue comentei em meu blog. Além de ser super divertido, contém algumas críicas bem lá no fundo. Muito bom mesmo!

Robson Saldanha disse...

Eu passei a gostar de musicais. Sempre tinha um bloqueio pro gênero, mas muito me interesso agora. Esse não vi e nem sabia muito sobre. Vou otar na lista!

renatocinema disse...

Sendo sincero sou fã, as vezes, do cinema B. Não sabia que esse filme seguia essa linhagem.

Se antes não tive curiosidade de assistir, sou fã de poucos musicais (Moulin Rouge e Chicago) agora fiquei curioso.

Ótima dica. Vou querer entrar nessa brincadeira.kkkk

Elton Telles disse...

AH! Deu uma vontade de rever quando vi o título rs. A minha sessão de "Rocky Horror Picture Show" foi inesquecível tanto pelo filme quanto outros fatores externos e talz rs. Diversão em estado bruto! =)


abs!

bruno knott disse...

Sempre ouvi bons comentários sobre ele... sem dúvida é um cult movie.

Mayara Bastos disse...

Confesso que tinha medo do filme por causa do nome. rsrsrs. Mas, darei uma chance a ele.

Beijos! ;)

Kamila disse...

NUNCA assisti a este clássico! Que vergonha!!!

Cristiano Contreiras disse...

Achei curioso a "fama" do filme por conta do Glee. Mas, na verdade, o elenco e a premissa - bem delineada por seu ótimo texto - me cativou. Interessante saber esse tom dele subversivo, meio malicioso e ousado, quero ver!

E Susan Sarandon é um deleite, pra mim! atriz fodástica!!! venero!

abraço

Anônimo disse...

um dos meus filmes favoritos... musicas muito foda!


http://filme-do-dia.blogspot.com/

AnnaStesia disse...

Continuo, com muito prazer, fazendo The Time Warp até hoje. Mega cult!

pedro tavares disse...

Clássico absoluto!

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