Possuída

"Louisa, is that you?"
Ainda que possa aparentar, esse Possuída – lançado diretamente em home vídeo no Brasil – não é um filme-B ou mesmo uma empreitada barata que teria em Kevin Costner um pivô de venda. Da estética à abordagem, foi um filme obviamente concebido com o “cuidado” e a “ambição” necessária para lhe garantir sucesso em circuito (nos Estados Unidos, porém, não ficou duas semanas em cartaz até ser subjugado ao lançamento em vídeo). Além de contar com Luis Berdejo, que trabalhou no roteiro de [REC], como diretor, o longa-metragem ainda reúne dois talentos oriundos do maravilhoso O Labirinto do Fauno: o compositor Javier Navarrete e a jovem atriz Ivana Baquero. Se houve, de fato, “cuidado” e “ambição” na sua concepção, é mais do que válido dizer que Possuída é uma grande decepção. E realmente é. Ao longo da metragem, vemos pintadas ideias e noções de terror das mais atraentes e instigantes – nada, porém, se transforma em algo minimamente palpável. É uma obra limitadíssima que merece o estado obsoleto ao qual já está inserida.

Originalmente intitulado “The New Daughter” – ou A Nova Filha – Possuída se concentra na família de John, Louisa e Sam James. Pai e filhos, respectivamente, que se mudam para uma nova cidade quando a esposa (e mãe) decide os abandonar. Próximo da casa, há uma espécie de túmulo caracterizado como colina – ou “monte”, como é conhecido. Louisa, que não está bem com a partida da mãe e constantemente resiste às investidas do pai que parecia ser distante, torna-se suscetível a algo que emerge daquele monte, que por sua vez a possui. A partir daí, estranhas ocorrências começam a assolar a família.

De início, Possuída parece seguir a fórmula: família com problemas que se muda para uma casa quase deserta, aos poucos se tornando vulneráveis e suspeitos sobre as incidenets nada convencionais. Junte-se isso ao passado sombrio que a casa possui e ao fato de envolver uma criança como fonte de possessão, e já podemos afirmar de forma convicta que originalidade passou longe na concepção do filme. O grande porém é que o roteiro de John Travis introduz inúmeros elementos isolados que, caso bem trabalhados, poderiam ter elevado o filme a outro nível. O mais principal sendo a personagem de Louisa. Embarcando no próprio título da obra, o suspense teria sido beneficiado caso tivessem investido em possível metáfora (ou mesmo analogia) sobre puberdade e as transformações de Louisa como adolescente. Insira aí um despertar sexual e o filme poderia ter sido realmente interessante.

O roteirista – e Berdejo – porém, parecem mais instigados a realizar um filme-B mesmo, algo que se concretiza com o desfecho peculiar. Despindo a história então de qualquer qualidade mais dramática e humana, somos deixados à deriva de uma abordagem mais mística e preocupada tão somente nos sustos fáceis e nas caras e bocas exageradas de um Kevin Costner que deveria começar a pensar na aposentadoria. Ainda sobre o elenco, é um tanto triste ver como Baquero – que estava primorosa no filme de Guillermo del Toro – encara um papel tão raso e infortúnio. Não há espaço aqui para impressionar ou envolver e a atriz definha de maneira muito fácil e repentina. A atenção da audiência perde-se muito cedo no jogo e, já na metade da película, descobrimos que nossos pensamentos já estão vagando para outros lugares. Se não isso, pensando em possíveis óbvias melhorias que o filme deveria ter sofrido.

Dentre outros elementos promissores ignorados pelo desenvolvimento geral da história, está uma breve e interessante analogia introduzida de forma ingênua pelo irmão de Louisa. Seria a ligação entre uma fazenda de formigas com as próprias ocorrências que começam a tomar conta de Louisa. É um conceito muito bom que infelizmente se introduz de maneira superficial – como quase tudo no filme. Ainda sobre as pseudo-qualidades do filme, vale notar o quanto Berdejo investe em efeitos sonoros e não no terror gráfico por um bom tempo de metragem, algo admirável. É uma forma habilidosa de criar suspense. O medo pelo desconhecido ainda é o mais forte de todos. Incidentalmente, é também outra noção de terror cheia de falhas e que não delonga até se banalizar por completo.

Contando com uma boa fotografia, preenchendo a tela em momentos com imagens realmente marcantes ou perturbadoras, Possuída não precisava ser original ou arrebatador para funcionar. Bastava investir nas entrelinhas e aplicar um desenvolvimento mais excitante à própria cinematografia, que surge falha e desinteressante. Os elementos funcionais estão todos ali, mas Berdejo não tem olhar certo e o roteiro falta o tato necessário. Vide um filme de terror – mais um – que desperdiça nosso tempo ao não chegar em lugar algum com sua história meia-boca. Esquece este aqui.
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The New Daughter (2009)
Direção: Luis Berdejo
Roteiro: 
John Travis, baseado em
Elenco: Kevin Costner, Ivana Baquero, Samantha Mathis, Gattlin Griffith, Erik Palladino, Noah Taylor, James Gammon, Sandra Ellis Lafferty, Margaret Anne Florence 

(Terror, 108 minutos)

8 comentários:

Kamila disse...

Do elenco, conheço o Kevin Costner (que resolveu apostar mesmo neste filão de suspense, hein), a Ivana Baquero e o Erik Palladino. E seu texto não é uma boa recomendação para a obra. Então, acho que só assistiria em último caso...

Mayara Bastos disse...

Coitado do Kevin Costner... rsrsrs. Também acho que já está na hora de ele pensar em aposentadoria. rsrs.

Beijos! ;)

Alan Raspante disse...

Vi o trailer milhares de vezes em vários DVD's. Mas em nenhum momento despertou o meu interesse. E agora tenho a confirmação que valeu a pena que não ter visto. Interessante ver que Ivana não está fazendo boas escolhas...

[]s

Wallace Andrioli Guedes disse...

Coitado do Kevin Costner...

Dewonny disse...

Tenho esse em casa faz tempo, uma hora eu assisto, apesar de seu comentário nada animador! Abs! Diego!

ANTONIO NAHUD disse...

Fico com pena do Kostner...
Abraços,

www.ofalcaomaltes.blogspot.com

Pedro Henrique Gomes disse...

Volta, tchê.

Abraço!

Alyson Santos disse...

Esta parado? Oh! assim a blogsfera fica falha.
Quanto ao filme, concordo plenamente. E digo que além de ser um filme desinteressante ele tbm acaba sendo um desinteressado em tornar a história algo mais atrativa. Uma pena, pelas qualidades tecnicas que possui, com exceção apenas do roteiro.

Abraço!

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